quinta-feira, 14 de julho de 2011

Vivem neste mundo?

"Nós não temos que nos amargurar. Temos é que trabalhar."
Engº Manuel Ferreira de Oliveira
in Negócios da Semana

A primeira pergunta que me explodiu no cérebro, quando ouvia este CEO da Galp Energia no programa Negócios da Semana, foi se este senhor conhece a realidade do país. Aliás, se conhece a realidade do mundo.

Se por um lado concordo com a primeira parte da afirmação, por outro fico completamente estupefacto com a segunda. Há muitos empresários que afirmam terem vagas disponíveis nas suas empresas que ninguém quer. Será que alguma vez se perguntaram porquê? Será que o salário oferecido é compatível com o trabalho proposto? Será que as horas extras que obrigam as pessoas a fazer sem compensação, terá alguma coisa a ver? Durante muitos anos, andámos a brincar com a frase - "procuras emprego ou um trabalho?". Hoje em dia, mediante uma sociedade que se está completamente borrifando, a frase, desta vez sem piadas, deveria ser - "Prefiro ficar em casa do que pagar para trabalhar!".

Há uns tempos atrás, recebi um mail sobre uma resposta de um jovem licenciado a uma proposta de trabalho. Não me lembro dos pormenores. Mas lembro-me da ideia. A proposta de trabalho queria jovens até aos trinta anos, licenciados em informática, com o domínio de cerca de cinco ou seis diferentes linguagens de programação, o domínio de cerca de dez programs de software, o domínio da língua inglesa e outra que não me recordo, oferecendo a enorme quantia de... seiscentos euros - €600,00!!!!

Para além de não encontrarem ninguém que preenchesse os requisitos (disso tenho a certeza), duvido que, caso houvesse, se submeteria a esse estrondoso montante. Este é um exemplo extremo, eu sei. Mas não é tão afastado da realidade quanto se possa pensar. Quem anda no mercado de emprego já terá encontrado situações semelhantes. Desde empresas que, ilegalmente, contratam pessoas a recibos verdes (o estado português inclusive), a empresas que obrigam as pessoas a pagar para trabalhar, o mercado está cheio. Ofertas não faltam.

Como nós portugueses somos diferentes dos gregos, somos passivos, medrosos, não conseguimos mudar a realidade. Imaginem se todos os "contratados" a recibos verdes fizessem uma queixa! O mais ridículo ainda, é que ouvimos os políticos a falarem sobre esta situação, os sindicatos a falarem sobre isto, e nada se faz. Os partidos de direita querem liberalizar o despedimento. Os partidos de esquerda não. Os empresários e os organismos públicos aproveitam-se. Poderão dizer que a culpa é do português que trabalha muito até entrar para os quadros e, depois, parece atingido pela picada da mosca Tsé-Tsé. Ou várias... Eu acuso as chefias que não sabem motivar. Não sabem chefiar. São incompetentes.

Nunca trabalhei na função pública. Tenho consciência da competência de muitos. Mas quando um sistema de avaliação tem limites, isto é, não se podem ter mais do que um x número de boas qualificações, como é que se pode levar a sério? "Se não fosse assim, todos teriam nota máxima" - dizem alguns. O problema será do sistema de avaliação ou de quem o implementa?

Mentalidades. Resume-se a isso. Deve ser do sol...

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