terça-feira, 12 de julho de 2011

Trabalho -> Submissão à economia

"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar."
William Shakespear

Qual o objectivo da vida? Porque razão fomos colocados neste planeta e num momento específico?

Acreditar em algo maior que nós é um caminho que muitos seguem. Eu prefiro não deixar o meu destino nas mãos de outros. Sejam eles deuses ou outra entidade qualquer. Por isso decidi questionar todo o meu percurso até agora e traçar um novo objectivo: partilhar a minha felicidade com todos. Espalhar o meu amor pela vida. Sou terrivelmente chato, por vezes, porque não consigo deixar de olhar para pequenas coisas e fazer perguntas que muitos consideram idiotas. E discuti-las. Gosto de uma boa discussão. Não há nada que encharque mais o meu cérebro com dopamina do que argumentar com outros. Sobre idiotices.

Uma delas é o paradigma do sistema financeiro e económico com que vivemos. Temos de trabalhar para subsistir. Se não o fizermos somos ostracizados pela sociedade. Somos uns inúteis. Os pedintes são encarados com asco. Ou com compaixão se forem deficientes. É assim que somos educados. É assim que educamos. Mas terá que ser assim?

Será justo que tenhamos de ter a educação escolar, o saber, ao serviço de um potencial futuro emprego?
Será justo que tenhamos de trabalhar durante mais de quarenta anos para podermos iniciar, verdadeiramente, a nossa vida? Quando já não nos conseguimos mexer? Atravessamos décadas de stress e má alimentação, preocupações com filhos cujo desenvolvimento não conseguimos acompanhar, noites curtas e mal dormidas, fazendo contas ao salário magro que o "generoso" patrão nos dispensa, para quê? Para deixar uma lápide num cemitério? Vejo tanta gente preocupada com a morte, se o caixão é de qualidade ou se querem ser enterrados junto aos restos de outros entes queridos ou se as cinzas são lançadas para o ar, terra ou mar. Mas... e a vida? Que objectivo têm? Que passos deram nesse sentido e até onde chegaram?

Estas perguntas levam-me a questionar a racionalidade do trabalho. Uma escravidão a um modelo económico em nome de um objectivo puramente ficcional. Mas que tolda a mente de todos. Cega. Não permite que se tenha tempo para questionar. Não admite ser posto em causa. Num almoço, há uns anos atrás, virei-me para um director de uma empresa onde trabalhava e disse-lhe - "Não nasci para trabalhar. Mas já que o tenho de fazer, quero fazê-lo da melhor maneira." Ele riu-se e escreveu a frase, tendo-me pedido para assinar. Guardou esse guardanapo e de vez em quando tirava-o do bolso. Sei que ele não me compreendeu. Não por ser burro ou menos inteligente. Mas porque o conceito é quase sobrenatural. Diria mesmo pagão. Sacrilégio. Neste mundo que idolatra o trabalho como verdadeiro objectivo da vida.

Num livro muito interessante, "Manifesto contra o trabalho" do Grupo Krisis, encontramos questões fulcrais e desmistificações da realidade tal qual ela é nos apresentada. O paradigma da evolução tecnológica versus consumo. Caminhamos para um abismo tremendo, num aumento sem retorno do desemprego. Na tentativa de serem competitivas, as empresas aproveitam a tecnologia para baixar os preços dos seus produtos ou serviços. Sobram as pessoas que ficam desempregadas e sem capacidade de consumir os produtos cada vez mais baratos. E é impossível alcançar um equilíbrio nesta sociedade ao serviço do lucro.

Por estas e outras razões devemos questionar-nos se é este o rumo que queremos para a nossa sociedade.

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