quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Compaixão e espanto...

Há uns dias atrás, uma notícia chamou-me a atenção. Uma notícia chocante. Decidi esperar uns dias antes de escrever sobre o assunto... esperava que arrefecessem os ânimos. Os meus.

O caso da miúda de 2 anos que morreu após ter sido atropelada 2 vezes, na China.
Vi apenas uma vez. Bastou-me.
Não tenho visto as notícias nos últimos dias. Aproveito essa hora para fazer o jantar. Não que os meus dotes culinários sejam grandes...
Por acaso, naquele dia em que a notícia passou (alguns dias após o acontecimento, diga-se de passagem...), estava a olhar para a TV.

Claro que estamos todos chocados com o atropelo. Onde estavam os pais? Perguntei-me de imediato.

Claro que estamos todos chocados com a insensibilidade dos transeuntes. Onde estavam os pais deles quando foram educados? Perguntei-me de seguida.

A minha indignação vai essencialmente para um país. Um país onde nascer mulher é quase um crime. O desrespeito pela mulher na China é milenar. O desrespeito pelo ser humano é milenar também. Embora Mao tenha tomado o poder na década de 40, fundando a nação hoje conhecida como a República Popular da China, conseguiu completar a des-sensatização total da sua população.

Era mau o que faziam aos pés das meninas, que a partir dos 2 anos de idade tinham-nos enfaixados de modo a terem os dedos metidos para dentro, apenas ficando o maior de fora. Quando as unhas cresciam enfiavam-se na sola dos pés, criando feridas que nunca saravam. Como se não bastasse, usavam pedras para partir os ossos dos pés de modo a "ajudar" a impedir o crescimento dos mesmos. A mulher nunca tirava as faixas dos pés quando estava com o marido, pois o odor pútrido da carne infectada era "desagradável". Cerca dos oito anos de idade, a potencial sogra da potencial futura noiva, no salão onde estariam as famílias reunidas, levantava as saias da menina para examinar os pés. Se não estivessem de acordo com os padrões, isto é, 8 cm no máximo, a megera (nem todas as sogras o são...) largaria a saia e ignoraria a menina, acabando nesse instante com o casamento arranjado socialmente vantajoso. A família da menina seria humilhada, pois tinha sido incapaz de garantir que a barbárie fosse socialmente proveitosa.

Faz-me lembrar a mutilação genital feminina. Mas a diferença principal é que a dor é real desde os 2 anos até morrer. A dor do parto deve ser uma brincadeira ao pé deste acto vil e sem piedade.

Há dias pensava na origem destes actos. Sim. Quem terão sido as almas engenhosas que se lembraram das formas mais brutais de sofrimento a aplicar a outros membros da espécie. Da mesma espécie? Deixo isso para reflectir noutro dia.

Como poderemos nós ficar admirados com a insensibilidade das pessoas na China? O governo chinês decretou o máximo de 1 filho por casal. O resultado foi que muitos casais optaram por ter machos. Suponho que hoje em dia farão abortos depois de uma ecografia, mas muitos resolveram o problema após o nascimento. A miúda vai para o alguidar e o rapaz segue para fazer uma vida de labuta nos campos de arroz ou a fazer camisas para a Nike ou IPads para o Jobs (oops, este já não manda fazer nada...). Ou isso ou são presos por cometerem o crime hediondo de terem mais que 1 filho. Bárbaros estes seres que ousam ter mais que 1... verdadeiros criminosos...

Se uma pessoa é capaz de matar a própria filha, para que há de se importar com uma desgraçada desfeita no meio da rua?

Espanto?

Só a carneirada que vive num mundo cor-de-rosa pode ficar admirada!

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